Até quem não tem filhos já ouviu falar em TERRIBLE TWO. A famosa expressão que, em bom português, significa “os terríveis dois”, é uma referência aos 2 anos de idade do bebê.
Mas o que é essa crise dos 2 anos? O que dizem os especialistas em psicologia, parentalidade e pediatria sobre essa fase de birras e broncas? E principalmente: o que fazer quando a criança está passando pelo Terrible Two? Continue com a gente aqui, pois vamos juntas entender do que se trata.
O que é o Terrible Two
É uma fase que traz uma série de comportamentos que podem ser esperados para a idade, às vezes um pouco antes e um pouco depois dos 2 anos da criança. É a idade em que algumas crianças se mostram muito inquietas e desafiadoras. Tudo vira uma luta quando seus desejos não são atendidos.
A hora de ir embora da pracinha, o momento de tomar banho ou dormir, o chocolate do supermercado que não entrou no carrinho de compras… Qualquer acontecimento do cotidiano pode despertar os “terríveis dois”. E este comportamento costuma tirar os adultos do sério. Mas antes de mais nada, saiba que a criança não quer provocar gratuitamente. Você não é um pai ou uma mãe incompetente que causou a birra do seu filho.
Quando começa o Terrible Two
Como o nome indica, é por volta dos 2 anos de idade. Porém, isso não significa que no dia do aniversário seu filho já vai começar a se jogar no chão do shopping pedindo alguma coisa. Vale saber que essa fase ocorre geralmente entre 18 meses e 3 anos.
Por que esse comportamento acontece nessa fase
A resposta do Terrible Two está no cérebro infantil. Mais precisamente no neocórtex, como explica o pediatra e psiquiatra Daniel Siegel no livro O Cérebro da Criança. Em resumo, é o seguinte: o neocórtex está em constante construção nos primeiros anos de vida do bebê. É esta parte do cérebro a responsável por habilidades como solução de problemas, gerenciamento das emoções e reflexão.
(Se até para nós, adultos, volta e meia temos dificuldades em momentos desafiadores, como pandemia, imagine a criança). E já esteja preparado para os demais anos da infância e da adolescência, pois a maturidade cerebral vai se desenvolvendo até os 20 a 25 anos de idade.
O que fazer para lidar com a birra do Terrible Two
Muitas famílias adotam a estratégia de fingir que nada está acontecendo. No entanto, se você seguir ignorando, o problema não vai desaparecer. Pode até aumentar (assim como toda sujeira que a gente varre para baixo do tapete).
A seguir, saiba como agir diante das birras de maneira firme, respeitosa e afetuosa ao mesmo tempo. As orientações são da pedagoga Carina Cardarelli, pós-graduada em Psicologia Infantil.
1 – Acolha seu filho
Este é o primeiro passo no momento da birra. Você precisa se manter consciente e seguro, lembrando que naquele momento a criança está sofrendo porque não sabe ainda como lidar com todas as emoções. Use sua compaixão.
2 – Valide os sentimentos da criança
“Filho, parece que você está chateado porque não pôde ir ao parque hoje”. Essa simples frase tem um poder gigante, pois faz com que a criança perceba que pode sentir as emoções quando vierem. Contribui também para o desenvolvimento da inteligência emocional, pois aprende a nomear os sentimentos.
3 – Conduzir e direcionar
Use sem moderação quando a criança é pequena. Na hora do conflito, corra. Isso mesmo, faça uma corrida ou algo que a criança goste, como jogar bola para liberar a energia que a raiva e a frustração acumulam no corpo. É o mesmo efeito de quando fazemos exercícios físicos, liberando hormônios que trazem bem-estar e satisfação.
4 – Perguntas curiosas
Sabia que perguntar tem um efeito positivo muito maior do que dizer o que a criança deve fazer? “Será que tem algum brinquedo esquecido no fundo da caixa esperando para brincar?” Essa técnica compartilha a responsabilidade com a criança, pois ela passa a fazer parte do processo de solução.

Birra por causa dos eletrônicos é Terrible Two?
O Brasil é um dos países que mais tem usuários de celular. E as crianças não escapam disso. A maioria dos pais está angustiada com o tempo que seus filhos passam na frente de uma tela, mas se sente confusa sobre os riscos reais.
Você que chegou até este ponto aqui no texto deve ter preocupações também. Provavelmente já sabe que a Sociedade Brasileira de Pediatria indica que bebês até 1 ano e meio não tenham nenhum contato com eletrônicos, certo? Mas também sabemos que os aparelhos digitais fazem parte da vida de todos desde o primeiro minuto de vida, desde a sala de parto.
Dessa forma, proibir não é a solução. Mas quando seu filho de 2 anos faz birra porque não quer parar de ver um desenho na TV ou um jogo no tablet, o que está acontecendo? Vamos explicar: a maioria das crianças pequenas não tem habilidade cognitiva ou auto-controle para adiar a gratificação. Ou seja, sua capacidade de esperar por algo é limitada, assim como entender a passagem do tempo. Criança nenhuma consegue reconhecer quando já teve o tempo de tela suficiente, então chega a birra.
A decisão de dar um eletrônico para uso deve estar relacionada à capacidade de aceitar e cumprir normas de uso. Se nem as crianças menores de 12 anos conseguem, imagine uma de 2 anos então. Ela vai gritar e espernear muito, sem controle sobre suas emoções. Afinal o uso da tela estava sendo usado para “acalmar” a criança, no ponto de vista dos pais – que acabam devolvendo o aparelho ou ligando a TV novamente para não ouvir o escândalo.
Em inglês isso se chama techno tantrum, birra da tecnologia. Não é só no Terrible Two, pois ocorre em várias idades. Se você está vivendo batalhas diárias para tirar seu filho dos aparelhos, comportamento violento ou agressivo, indicamos o livro Como criar filhos na era digital, de Elizabeth Kilbey, que traz estratégias para cada faixa etária e também um entendimento maior das causas e consequências do uso de telas.